Por Weber Andrade
Uma garantia eu tenho, a de começar o dia com os dois pés, mesmo que o primeiro a tocar o chão do quarto seja o esquerdo. Mas hoje, antes de me levantar, agradeci a Deus, como sempre, pela vida e ao me por de pé, tomei o cuidado de pisar primeiro com o direito, mesmo sendo esquerdino de nascença.
Olhei por cima do muro do terraço, dia lindo, céu claro e o gato preto que costuma passear no telhado logo abaixo do prédio onde me escondo, não estava. Graças a Deus, por isso. Não que eu tenha alguma coisa contra os gatos pretos, mas, por via das dúvidas, melhor não vê-los cruzando o meu caminho nesta sexta-feira.
Antes de sair, fui até o suporte de uma caixa d’água, feito de madeira, bati três vezes e disse as palavras mágicas: pé de pato, mangalô, três vezes, rogando ao Nosso Senhor, à Virgem Maria, a todos os anjos e santos, que afastem de mim qualquer ruindade ou pensamento danoso.
Lá embaixo do prédio, meu amigo Negão, que também chamam Pirata e Flagrante, pulou da sua casinha – uma caixa de isopor com fundo coberto de papelão, gentilmente cedida pela Creuza, dona do hotel na vizinhança – assim que me viu. O Negão, como eu gosto de chama-lo é um cachorro de rua muito dócil e esperto, que faz amizade fácil, mas decidiu morar perto de mim, atraído por uma refeição matutina de pura proteína e algum carinho. Ainda bem que cachorro preto não traz má sorte, como os gatos da mesma cor.
De casa até o trabalho o trajeto não passa de 200 metros, mas segui atento para não passar embaixo de nenhuma escada. Não porque eu tenha medo do azar, mas vai que alguém deixa cair uma lata de tinta, uma ferramenta qualquer na minha cabeça, vade retro!
Já no escritório, vendo as notícias do dia, soube que nesta sexta-feira, tem lua cheia. Além de ser a única sexta-feira 13 deste ano, ainda tem lua cheia. Descobri lendo matéria do jornal Extra, que essa junção mística ocorreu pela última vez em outubro de 2000, há quase 20 anos, e que só voltará a acontecer em agosto de 2049. Portanto, hoje à noite, ninguém me tira de casa. Acho até que vou tomar um banho de bacia, com sal grosso, no final da tarde, mas antes vou procurar um canteiro de azedinhas, ver se encontro um trevo de quatro folhas.
Felizmente, a próxima sexta-feira 13 só acontece dentro de dois anos, em agosto de 2021. Mas porque esse preconceito, essa superstição diante da sexta-feira 13? Dizem que o número é considerado de má sorte, um número irregular, sinal de infortúnio e a sexta-feira foi o dia em que Jesus foi crucificado e também é considerado um dia de azar. Somando o dia da semana de azar com o número de azar temos o mais azarado dos dias.
Mas, para uma coisa essa sexta-feira já me serviu. Descobri o nome que se dá às pessoas que tem muito medo do número 13: Parascavedecatriafobia ou frigatriscaidecafobia.
Eu não sou Parascavedecatriafóbico ou frigatriscaidecafóbico. Na verdade, eu gosto do 13, eu gosto da sexta-feira e gosto da lua cheia, mas não quero arriscar a pele nestes tempos de tanto infortúnio para o nosso país, por isso, vou dormir cedo, como sempre e evitarei andar na rua o dia todo, só por precaução, e antes de ir pra casa, buscarei de novo a madeira e repetirei o bordão: Pé de pato, mangalô, três vezes, só pra modo de espantar de vez o cramulhão.
Eita que hoje é um dia dos bons. Sexta feira 13, eu gosto. E a noite então com Lua cheia. vou sim me deliciar com um presentes desses compadre.
Brilhante
Menos amigo, mas agradeço pelo elogio!