Com o advento da internet também se intensifica a cultura do ódio na sociedade brasileira. Muitas pessoas começam a ofender uns aos outros e acham que estão tecnicamente protegidas pelo “anonimato” das mídias digitais. Assim, a intransigência está a cada dia prior e as postagens nas plataformas digitais estão carregadas de discurso de ódio.
Mas, como identificar um discurso de ódio? Conceituar o ódio não é tarefa fácil. Por um lado, ele aparece como um sentimento de raiva ou como expressão da violência. Por outro lado, é entendido, numa perspectiva simplista, como o contrário do amor ou como uma incapacidade de amar. Nessa perspectiva, seria apenas uma ausência, ou seja, o ódio como a falta de bons sentimentos. O ódio seria, então, gerado por falta de oportunidades de experimentar o bem ou de ser educado num ambiente amoroso?
Atualmente observamos as redes sociais com um certo desespero em ver como a cultura do ódio está se intensificando no Brasil. Ao olharmos uma publicação de qualquer pessoas que seja pública ou anônima, mostrando seu posicionamento seja político ou outro qualquer, percebermos que a sociedade como um todo está ensinando a odiar tudo que é diferente do tido como “normal”. Assim, o que observamos nas redes sociais é o acirramento do discurso de ódio, de intolerância às diferenças, e tudo isso pautado muitas vezes no discurso de “liberdade de expressão”. Vivemos um paradigma: de um lado uma sociedade com crescente busca por aceitar as diferenças existentes na sociedade e, do outro, existem aquelas que falam o que quiser e não estão preocupadas em causar desconforto na outra pessoa. De acordo com o Thiago Tavares, presidente da ONG SaferNet Brasil “aquele brasileiro cordial não usa a internet no Brasil”. Então, quando as pessoas vão aprender a criar empatia com as outras pessoas?
Segundo Nelson Mandela, “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender.” Portanto, as mídias sociais só fazem amplificar esse ódio, reafirmando os preconceitos que as pessoas já têm.
Um levantamento inédito realizado pelo projeto “Comunica que Muda”, iniciativa da Agência Nova/Sb, mostra em números a intolerância dos internautas brasileiros. A pesquisa mostrou que o índice de agressões em mensagens aumentou entre abril e junho. Assim, um algoritmo analisou as postagens feitas nas plataformas como Facebook, Twitter e Instagram atrás de mensagens e textos sobre temas sensíveis, como racismo, posicionamento político e homofobia. Foram identificadas 393.284 menções, sendo 84% delas com abordagem negativa, de manifestação do preconceito e da discriminação. A pesquisa ainda mostrou que o segundo tema com maior número de mensagens foi o ódio às mulheres, com um total de mensagens coletadas de 49.544 citações que abordavam as desigualdades de gênero, sendo 88% delas com viés intolerante.
Essas mensagens muitas vezes são travestidas de “piadas” que são curtidas e compartilhadas, reforçando no ambiente virtual que incitam o assédio, pornografia de vingança, incitação ao estupro e outras violências contra a mulher. A liberdade de expressão não é um direito fundamental absoluto. A partir do momento que se ultrapassa o limite dessa liberdade, agredindo alguém, espalhando ódio ou incitando a violência, põe-se em risco à vida de outras pessoas. Virtualmente ou não, atos como estes devem ser punidos pelas devidas autoridades.
Portanto, faz-se necessário que o governo potencialize a fiscalização dos crimes que ocorrem na internet, além de criar leis específicas para o mundo virtual. As escolas e as famílias também têm um papel importante formando cidadãos conscientes da diversidade cultural e de opiniões que há no mundo e instruídos para um uso responsável da internet e das redes sociais.
Autores(as): Aline Ferreira de Araújo, Jessiana dos Santos Dantas (discentes no curso de Bacharelado em Administração, da Universidade Federal de Alagoas) e Fabiano Santana dos Santos (Professor no curso de Bacharelado em Administração, da Universidade Federal de Alagoas)