Há pouco menos de dois meses, no dia 17 de julho, nossa reportagem percorreu as margens dos rios Itaúna e São Francisco, no perímetro urbano de Barra de São Francisco e constatou que os dois rios enfrentam toda sorte de agressão humana, desde que a região começou a ser colonizada, por volta de 1920 e suas águas diminuem a cada dia.
Hoje, 14 de setembro, presenciamos a pior situação já enfrentada pelos rios nos últimos anos, principalmente o São Francisco, que virou comedouro para os urubus, que agora se alimentam das poucas tilápias que ainda conseguiam sobreviver nas águas imundas, mais esgoto do que água.
Vencidas pela falta de oxigênio enormes tilápias tombam sobre o barro preto e são devoradas pelos urubus diante de transeuntes incrédulos. “Nunca tinha visto uma coisa assim na minha vida. Já vi muitas tilápias buscando oxigênio no ar, mas agora, eles estão mortas e sendo devoradas”, lamenta uma senhora ao passar pela ponte da rua Prefeito Manoel Vilá, na manhã deste sábado.
Na foz do Itaúna, a situação não é diferente, os urubus saboreiam grandes tilápias em meio à lama preta que se forma no local. Um pouco acima, mas antes da ponte que liga o centro à Vila Gonçalves, um pequeno cardume de tilápias, ainda resiste, buscando no ar o oxigênio que não encontram na água. Dali para cima, até a ponte da Vila Landinha, os peixes praticamente desapareceram.
“Até os bagres africanos, acostumados a viver no esgoto, estão desaparecendo dos rios. Só tem lixo e esgoto, água mesmo acabou”, comenta um morador da margem do Itaúna.
Racionamento – A situação chegou a tal ponto que, se não chover rápido, o Governo Estadual terá que proibir qualquer tipo de irrigação acima da barragem da Cesan, sob pena de acontecer o racionamento de água para consumo humano já a partir de outubro”, afirma um técnico ambiental.
Rios agonizam por causa da
ação nefasta da população
Os rios São Francisco e Itaúna têm uma característica muito peculiar. Ambos nascem na região serrana de Santa Luzia, em Mantenópolis, bem pertinho um do outro, mas tomam rumos contrários até se encontrarem no perímetro urbano de Barra de São Francisco. O São Francisco desce a serra Branca, em direção a Minas Gerais até o perímetro urbano de Mantena – mas antes acumula, em uma barragem, quase toda a água que abastece a Sede do município.
De Mantena, ele percorre mais alguns quilômetros, já encorpado por outros córregos que também cortam o perímetro urbano da cidade mineira até chegar ao perímetro urbano de Barra de São Francisco, que, óbvio, leva o nome devido ao curso d’água.
O Itaúnas, por sua vez, tomou rumo distinto, em direção ao mesmo destino, desce até o distrito de Cachoeirinha do Itaúnas, passando pela Comunidade dos Dias e serpenteia ao encontro do irmão, por cerca de 20 quilômetros.
Bem na altura do bairro Irmãos Fernandes, nas proximidades da Rua Mineira, os dois se fundem e vão em direção ao seu rio mestre, o São Mateus, na ansiosa busca pelo mar, que é o destino de quase toda a água doce.
O São Francisco enfrenta menos problemas ambientais até sua chegada ao perímetro urbano de Mantena, pois não abriga grandes projetos de irrigação em seu percurso.
Já o irmão Itaúnas, começa a ceder água para irrigação e consumo humano poucos quilômetros após a sua nascente, no distrito de Cachoeirinha. Dali para baixo ele é quem sustenta tudo quanto é ser vivente que carece de água para viver, bem como plantações de café, hortaliças, frutas e o gado, seja ele bovino, equino, caprino, além das aves e outros animais silvestres.
Ao chegar no perímetro urbano da cidade, é logo “barrado” pela Cesan, a companhia de abastecimento estadual, que dele se serve – sem que o sirva de modo algum, diga-se de passagem – para abastecer uma população de mais de 40 mil pessoas, além de comércio e indústrias de todo o tipo. (Weber Andrade)
é com muita tristeza constatar a morte desses ecossistemas, muita gente não sabe, essas águas vêm do cerrado e estão a se escassear cada vez mais. é urgente o reflorestamento de espécies nativas nos morros, visando fazer com que as águas das chuvas se infiltrem até os subsolos. isso tem que ser feito para que as próximas gerações tenham garantia hídrica!!!